Clicar para Amigar

Sérgio Mendonça

Ter amigos nunca foi tão fácil como é nos dias de hoje. Cada novo amigo está à simples distância de um «clique». Há muito por onde escolher. Não tem nada que enganar (!?). Há quem os tenha às dezenas, às centenas e até aos milhares! Mas estaremos a falar de verdadeiras amizades? E, se sim, qual o segredo para esta espiral inesgotável da amizade?

«Amigo do meu amigo meu amigo é!». Poderia, muito bem, ser esta a base para a construção da maior comunidade de amigos de todos os tempos (já conta com mais de 50 milhões de registos), mesmo que virtual. Os mais novos certamente já saberão do que se trata. Os mais velhos, talvez, não. Para que não restem dúvidas, cá vai a apresentação do fenómeno: Hi5 (escrito e lido à inglesa, talvez porque, para grande parte da juventude, a língua de Camões não tem tanto estilo).

Mas o que é o Hi5? Basicamente, o Hi5 é uma rede on-line, onde cada membro tem a possibilidade de criar a sua própria comunidade de amigos, buscando e juntando velhas e novas amizades. Para isso, basta registar-se no sítio oficial (www.hi5.com), e, a partir desse momento, tem a liberdade para construir o seu próprio perfil, de sua livre e espontânea vontade, disponibilizando todos os dados e fotos pessoais que bem entender. Dá-se, assim, a conhecer à posterioridade. Quanto mais apelativo for o perfil – quer em grafismo, fotografias ou informações pessoais – mais hipóteses há de arranjar novos amigos. Pelos menos é o que pensam muitos dos membros, que colocam à disposição de todos (conhecidos e desconhecidos) a sua descrição, da cabeça aos pés, os seus interesses, a todos os níveis, e, ainda, um role, por vezes consideravelmente grande, das suas fotos mais…apelativas. Apesar de nem sempre tudo corresponder à realidade. O que levanta questões delicadas… e até perigosas. Segundo um estudo sociológico norte-americano, o Hi5 tem uma forte influência nas opiniões e escolhas de crianças e jovens adolescentes, nomeadamente é apresentado o exemplo dos gostos musicais de cada um. Não será ao acaso que a própria indústria discográfica se aproveita deste poder sobre os mais jovens. Porém, os aspectos negativos não ficam por aqui, como se irá ainda constatar.

Mas para além das funcionalidades anteriormente referidas, há ainda a possibilidade de pôr à disposição, de todos quantos visitam a página de cada perfil, músicas, vídeos, imagens e todo um sem fim de categorias. Merece ser salientado o facto de só em 2006 o sítio do Hi5 ter somado cerca de 2,3 mil milhões de visualizações de utilizadores portugueses (só do continente), na sua maioria entre os 15 e os 24 anos, conforme revela um estudo feito pela Netpanel.

hi5.jpg

À parte do que cada um escreve e publica, na rede, sobre si, há ainda a possibilidade de comentar os perfis e fotos dos outros. Pode-se dizer tudo o que se quer. O Hi5 permite-nos expressar tudo aquilo que muitas vezes não conseguimos «deitar cá para fora» no quotidiano, na «vida real». O que nem sempre é agradável para todas as partes. Consegue-se ainda, através do Hi5, comunicar através de mensagens, num funcionamento muito semelhantes ao do simples e-mail.

Apesar de toda a virtualidade, é de pessoas reais que vive o Hi5.

David tem 15 anos e o seu perfil no Hi5 “há um ano e tal”. É um jovem adolescente lisboeta, que vive na Amadora, está descomprometido, e assume-se, sempre com um registo de boa disposição, como amigo, calmo, engraçado e…parvo (entre outras características) – está tudo na sua página de perfil (pois claro!). Acredita quem quer. David não tem qualquer problema em assumir as motivações que o levaram até o Hi5. “Tenho Hi5 porque é uma moda. Porque muitos dos meus colegas já tinham e eu decidi experimentar.” Porém, tem consciência que as utilidades desta comunidade da amizade são limitadas. “É divertido para passar o tempo.” E por aí se fica.

Este jovem, de cabelos e olhos castanhos e com cerca de 1,75m, reconhece que o Hi5 “pode ter alguns aspectos negativos”, visto as pessoas colocarem lá as suas fotos e informações pessoais. Porém, não teme o que terceiros possam fazer com elas. “Não tenho lá nada de muito importante, que me possa comprometer.” Talvez por nenhum dos seus amigos ter sofrido qualquer tipo de abuso, tal como ele, assegura que não está a pensar tirar o seu perfil da internet. “Até agora, não tive qualquer problema com ele, portanto não estou a pensar em tirá-lo.” Se algum dia se justificar, pensará nessa opção, “dependendo do problema.”

O Hi5 tem como idade mínima de admissão os 13 anos. Mas, para David, só “a partir dos 15” se tem a idade “adequada” para entrar neste mundo. “Pode ser perigoso crianças muito novas se meterem nessas coisas.” Apesar de ter consciência de que tudo “depende da educação que é dada a cada um”, ele acha que os pais “deveriam ver os perfis dos filhos” e “filtrar as fotos apresentadas”. Mesmo com esta opinião, David deixou escapar o facto dos seus pais desconhecerem por completo a existência de um perfil seu «à mão de milhões de pessoas».

Certamente não será caso único, mas o próprio sítio tem uma secção exclusivamente dedicada a conselhos para os jovens adolescentes e para os seus pais. [ver caixa].
Importante de referir: até à data, David já contava com 131 amigos na sua comunidade, muitos comentários feitos e muitos recebidos.

Entre os amigos de David, nem todos conhecidos pessoalmente, está Raquel, uma estudante universitária de 20 anos, que, por acaso ou não, até é sua conhecida pessoal. Não fosse ela a namorada do seu irmão mais velho.

Raquel tem o seu perfil – muito colorido e repleto de imagens – on-line “há cerca de ano e meio”, depois de ter cedido à pressão dos “convites” de muitos dos seus amigos.
“Fiz primeiro o log in e depois é que fui ver como aquilo era. Quando fiz aquilo não sabia de nada. Não sabia como era, para que servia… Só depois de estar registada é que comecei a ver os perfis dos meus amigos.”

Raquel admite ter gostado, desde logo, do Hi5, pois permite-lhe “encontrar pessoas com quem não convivia há bastante tempo: colegas de escola, amigos de infância…”. E, além disso, “há também a possibilidade de conhecer outras pessoas”, apesar de confessar que essa não é essa a “vertente” que mais a cativa. Esta jovem, de cabelo claro e encaracolado e olhos castanhos, que reparte a vida entre Lisboa e o Sobral de Monte Agraço, encara esta rede de amizade como um “complemento”, que lhe permite “conhecer os gostos das pessoas”, pois cada vez mais as “relações são feitas à distância”. Culpa “da internet e dos telemóveis”!

Tal como David, Raquel ainda não teve situações negativas no Hi5. Relata apenas a grande frequência de convites de “pessoal estranho” para serem seus amigos. “Desde homens de 40 anos a miúdos de 12, 13 anos, que eu não conheço de lado nenhum.” Mesmo assim, Raquel não teme que as suas fotos sejam utilizadas para fins menos próprios, mas pensa que é “um risco”. “Acho que vale a pena!” Tudo em nome da amizade e de “antigos conhecidos”. Desistir do Hi5 “só mesmo numa situação extrema”.

Outro fenómeno do Hi5, que quase se tornou um mito, é a iniciação de relacionamentos amorosos através do mesmo. Raquel é directa quanto a esse assunto: “Há muito engate. Hoje em dia o engate passa pelo Hi5, sem dúvida!” E reforça essa sua ideia contando a história de uma amiga. “Tenho uma amiga minha que conheceu o namorado pelo Hi5. Claro que aquilo não durou, porque ela pensava que ele era uma coisa, e, na realidade, ele era outra.”

Quanto a questões de idade, Raquel pensa que só deveria ser permitido o acesso a estas comunidades “a partir dos 16 anos”. “Mais cedo as crianças não têm noção dos perigos a que estão sujeitas, porque pode alguém vir falar com elas, meter-se com elas e querer combinar encontros, fazer-se passar por uma coisa que não é.” O flagelo da pedofilia está também presente no Hi5. “Há o perigo das crianças conviverem com pessoas que não conhecem. As crianças são facilmente manipuláveis e, se calhar, são atraídas para encontros…”. Esta jovem cristã, que só bebe socialmente e não fuma, refere também que a resposta a este problema passa pelos pais, defendendo que são eles que devem vigiar de perto os filhos e os sítios na internet que frequentam e com que finalidade. “Os pais deveriam estar atentos. Mas há pais que não têm formação para isso, que não percebem nada de computadores e que não podem mesmo dar apoio aos filhos. Os pais deveriam informar os filhos sobre o melhor modo de lidarem com isto: não por fotografias é uma boa hipótese.”

Raquel fala-nos ainda de outra faceta do Hi5: a publicidade. De salientar que segundo os regulamentos oficiais é proibido a qualquer tipo de organização criar perfis com fins publicitários. Porém, “há casos de discotecas e bares que também têm uma página de Hi5 com os seus amigos, ou seja, com os seus clientes.”, conforme relata Raquel. Para além destes casos, há ainda o facto de “muitos cantores e artistas” terem aderido ao Hi5, “permitindo aos utilizadores acederem a informações deles, músicas… É uma forma de promoção de artistas”.

Demonstrando-se completamente conhecedora do Hi5, esta estudante garante: “O meu perfil vai continuar on-line e com actualizações constantes.”

Mais uma vez, importa não esquecer o mais importante: Raquel conta já com 280 amigos, muitos «cliques» e muitos e variados comentários recebidos e efectuados.

Curiosamente, entre a lista de Hi5 de amigos (uns mais que outros, como a própria assume) de Raquel, não encontramos Nuno, que, para que não haja dúvidas, é mesmo amigo dela, pelo menos na dita «vida real». Tal facto deve-se a Nuno, um estudante universitário com 21 anos, ser um assumido «anti-Hi5». Ele pensa que “há um entusiasmo demasiado exacerbado” à volta do Hi5. E apresenta-se como um crítico acérrimo deste “problema que se engloba numa determinada cultura que está a ser passada para a juventude deste pais, que passa, muito mais, por uma ideia de tu dares uma fachada, de seres uma pessoa politicamente correcta, e de te sujeitares àquilo que é o sistema do «comer e calar».” Mesmo assim, Nuno reconhece que “existem pessoas que têm no Hi5 coisas de bastante qualidade, que não há nada que se lhes possa apontar o dedo”. Mas, de seguida, Nuno dispara em todas as direcções. “O Hi5 é uma forma de mostrar personalidade, que, quando se vai ver, a maior parte das vezes, não passa de uma fachada.” E continua… “A maioria das fotos que se vê lá são, sem dúvida, medíocres”.

Quanto a alguma utilidade que o Hi5 pudesse ter, o jovem é claro, conciso e coerente: “Não serve para nada de importante!”

Mesmo não fazendo parte da grande comunidade de amigos que é o Hi5, Nuno não hesita em opinar sobre aspectos negativos do Hi5. “Acredito que esse tipo de programas seja propício para vinganças pessoais, que se está habituado a ver na internet muitas vezes.” E alerta, ainda, para a necessidade urgente de os pais “terem especial cuidado” com os filhos: “Há certo tipo de conteúdos que poderão ser abusivos para algumas idades. Não é censura, mas controle da vida dos filhos, de forma a que eles tenham um crescimento «saudável».”

A posição de Nuno relativamente à sua adesão ao Hi5 é novamente vincada, para que não restem dúvidas. Colocar o perfil on-line? “Não! De forma nenhuma! Não sinto necessidade de andar a por as minhas fotos nesse tipo de coisas. As pessoas que conheço, conheço pessoalmente, conheço em situações da vida real e creio que não estou disposto a entrar nesse tipo de brincadeiras cibernéticas.”

David e Raquel, como muitos jovens portugueses, representam uma geração que vive e sente a amizade num sentido diferente, talvez mais vasto. Virtude de uma nova era, repleta de novas tecnologias. Onde não há barreiras palpáveis e a frustração da ausência física não parece tomar grande importância no estabelecimento de laços de amizade. Já para Nuno a distância de um «clique» parece ser demasiada e a proximidade humana indispensável.

«SUGESTÕES OFICIAS DE SEGURANÇA ONLINE DO HI5»

Conselhos para os jovens adolescentes

•Proteja as suas informações. Utilize as definições de segurança para controlar quem pode visitar o seu perfil. Lembre-se de que se não utilizar as funções de segurança, qualquer um pode aceder às suas informações. Tenha o cuidado de não publicar informações que o tornem fácil de localizar por estranhos.

•Nunca se encontre com estranhos. Evite encontros com alguém que conheça online. Se tiver de se encontrar com um amigo online, marque o encontro num local público, durante o dia e peça a um parente próximo (pai ou mãe) para o acompanhar.

•Fotografias: Pense antes de publicar algo. Evite publicar fotografias que permitam a sua identificação (por exemplo, se alguém efectuar uma pesquisa pela escola que frequenta) ou que contenham imagens especialmente sugestivas. Antes de transferir uma fotografia, pense em como se sentiria se esta fosse vista por um pai/avô, professor de uma universidade ou futuro empregador.

•Verifique os comentários regularmente. Se permitir comentários ao seu perfil, verifique-os regularmente. Não responda a comentários ou e-mails maldosos ou embaraçosos. Elimine-os, não permita comentários de pessoas ofensivas e comunique a identidade das mesmas ao hi5. Além disso, nunca responda a e-mails de estranhos que façam perguntas pessoais.

•Seja honesto em relação à idade. As nossas regras de filiação existem para proteger os utilizadores. Se mentir acerca da idade, o hi5 eliminará o seu perfil.

•Confie nos seus instintos se suspeitar de algo. Se se sentir ameaçado por alguém ou desconfortável por algo online, conte a um adulto em quem confie e informe a polícia e o hi5.

•Informações adicionais. Para obter informações adicionais sobre segurança online e para saber mais, veja estes recursos: http://www.blogsafety.com e http://onguardonline.gov/socialnetworking_youth.html

Conselhos para os pais
•Seja sincero com os seus filhos e encoraje-os a falar consigo se tiverem problemas online— desenvolva a confiança e a comunicação, uma vez que não há regras, leis ou software de filtragem que o substituam como a primeira linha de defesa de um adolescente.

•Fale com os seus filhos sobre a forma como utilizam os serviços. Certifique-se de que entendem as directrizes de segurança básicas da Internet e de redes sociais. Estas incluem proteger a privacidade (incluindo a utilização de palavras-passe), nunca publicar informações de identificação pessoal (como, por exemplo, o apelido, número da segurança social, número de telefone da residência ou números de cartão de crédito), evitar encontros pessoais com pessoas que conheçam online e não publicar fotografias impróprias ou potencialmente embaraçosas. Sugira que utilizem as ferramentas de privacidade do hi5 para partilhar informações apenas com pessoas que conhecem realmente (e não apenas virtualmente) e nunca admitir “amigos” nas suas páginas, excepto se souberem quem são.

•Considere estabelecer que todas as actividades online tenham lugar numa área central da casa, não no quarto dos seus filhos. Tenha em atenção de que poderão existir outras formas de as crianças poderem aceder à Internet fora de casa, incluindo em vários telemóveis e consolas de jogos.

•Tente que os seus filhos partilhem blogs ou perfis online consigo. Utilize motores e ferramentas de pesquisa em páginas de redes sociais para procurar o nome completo do seu filho, o número de telefone e outras informações identificadoras.

•Diga aos seus filhos para confiar nos seus instintos no caso de suspeitarem de algo. Se se sentirem ameaçados por alguém ou desconfortáveis por algo online, devem contar-lhe e, em seguida, informar a polícia e o hi5.

Etiquetas:

6 Respostas to “Clicar para Amigar”

  1. sara Says:

    eu quero contruir um hi5

  2. Destaques desta edição 3ªedição « Says:

    […] Em reportagem: O mundo do Hi5 […]

  3. rosario Says:

    ola sou o rodney.

  4. catarina Says:

    lOoOl

  5. ana roque Says:

    eu gostava muito de conhecer pessoas e ter mais amigos,

  6. jessica Says:

    qero ajuda para qonstruir um hi5

Deixe um comentário